No
âmbito da celebração do centenário de António Ramos Rosa, um dos grandes poetas
portugueses do século XX, a Antena 2 organizou o recital O Poema Ensina a Cair,
com a leitura da talentosa Raquel Marinho (voz) e o acompanhamento de Filipe
Raposo (piano), no dia 9 de setembro de 2024, no Museu do Oriente, em Lisboa. O
evento decorreu no 5.º piso, no Auditório Stanley Ho, um espaço de grande
importância cultural.
A
expectativa era alta, afinal, tratava-se de um evento em homenagem a um dos
maiores nomes da nossa poesia contemporânea. No entanto, ao entrar na sala,
deparei-me com um ambiente escuro e sombrio, que não me pareceu fazer justiça
ao conteúdo vibrante e profundo da obra de António Ramos Rosa. Embora a
intenção possa ter sido criar uma atmosfera íntima e contemplativa, a verdade é
que o recital acabou por carecer de dinamismo.
O
auditório, com capacidade para 350 pessoas, estava longe de estar cheio. Apesar
da qualidade dos artistas e da magnitude da obra de António Ramos Rosa, o
público presente era reduzido, o que talvez tenha contribuído para a falta de
energia e envolvência que senti ao longo da apresentação. A fusão entre poesia
e música foi executada com rigor, mas parecia faltar algo: uma conexão mais
profunda com a audiência. A leitura de Raquel Marinho, apesar de cuidadosa e
expressiva, poderia ter sido mais interativa, trazendo o público para dentro da
experiência poética.
Por
outro lado, Filipe Raposo no piano trouxe uma elegância sonora que complementou
bem a recitação, mas sem grandes momentos de destaque ou surpresas musicais. Um
pouco mais de ousadia poderia ter acrescentado uma dimensão extra ao recital,
ampliando a profundidade emocional das palavras de António Ramos Rosa.
Agravação do evento foi transmitida apenas no dia 17 de outubro de 2024, data em
que se assinalou o centenário do nascimento de António Ramos Rosa. Apesar de
ter passado mais de um mês desde o recital, é apenas agora, no dia 18 de
outubro, que publico esta crítica. Talvez o tempo de espera tenha acentuado a
minha sensação de que, enquanto homenagem, o evento merecia uma abordagem mais
envolvente e memorável.
A
poesia de António Ramos Rosa tem uma carga existencial e filosófica única, e o
título do recital, O Poema Ensina a Cair, prometia uma viagem introspetiva pela
alma humana. No entanto, o que senti foi um certo distanciamento. Houve
momentos em que parecia faltar a energia necessária para nos fazer mergulhar
nesse universo.
Este recital foi uma celebração justa da obra de António Ramos Rosa, mas podia ter sido muito mais. Poderia ter sido uma experiência arrebatadora, tanto para os fãs de longa data como para quem teve o primeiro contacto com a sua poesia. No final, saí com a sensação de que a grandiosidade da obra merecia mais envolvência e uma maior capacidade de cativar a plateia.
Apesar de Poesias da Nonô preferir promover o trabalho de poetizas, mulheres poetas, uma vez que atendeu a este evento, hoje o lugar de destaque está a ser ocupado por um homem.
Despeço-me, por hoje, até à próxima sexta-feira, com o nosso habitual cumprimento, beijos poéticos,
M.ª Leonor Costa (Poesias da Nonô)
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